Um
dia desses um amigo que tinha acabado de sair da prisão depois de
cumprir dezenove anos veio me visitar e me disse que a maioria dos
caras estava lá por delitos sexuais e não por desvios de dinheiro e
golpes contra a república. Ele dizia ser um escritor. Ao menos
escreveu bastante enquanto esteve na prisão. Me escreveu através do
meu editor e recebi as cartas da prisão. E as respondi e ele era uma
criatura lisonjeira, ficava me falando que as minhas histórias de
sacanagem ficavam passando de cela em cela e que os garotos estavam
adorando – menos um cara que achava que eu não fazia ideia de como
usar a língua inglesa adequadamente – e eu respondi: diga àquele
cara que ele está certo e que essa é a melhor coisa em meus textos.
Outros presos começaram a me escrever, e eu descobri mais duas
coisas: havia muitos homens na cadeia e a maioria deles eram
escritores. Meu amigo, o presidiário, disse que também tinha cartas
de William Saroyan (outro grande cara) e que minhas cartas e meus
livros ainda estavam rodando freneticamente, inclusive minhas colunas
em jornais underground, santo Deus, eu era demais.
Ele
veio com sua velha e com outro preso que tinha acabado de sair, que
também trouxe sua velha. Ele trabalhava como carpinteiro por 15
dólares e 75 a hora, e eles tinham vindo do norte para ir à Disney
e me ver. Tinham quatro latas de cerveja quente e ele disse:
– Deus
do céu, você realmente é tão feio quanto nas fotos.
Eu
sabia disso, mas não sabia que um bom homem podia manter uma ereção
por uma hora e meia e trepar com uma mulher três vezes por dia. Ele
nunca mencionou nada sobre a língua. Mesmo assim, alegou que a
maioria dos crimes eram sexuais, ele tinha cartas do William Saroyan
e ficava se inclinando sobre a lareira e abrindo e fechando o zíper
enquanto olhava para a minha namorada. Ele parecia uma autoridade no
assunto.
Charles
Bukowski, in Pedaços de um caderno manchado de vinho
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