segunda-feira, 14 de dezembro de 2015

Notas de um velho safado (7)

Um dia desses um amigo que tinha acabado de sair da prisão depois de cumprir dezenove anos veio me visitar e me disse que a maioria dos caras estava lá por delitos sexuais e não por desvios de dinheiro e golpes contra a república. Ele dizia ser um escritor. Ao menos escreveu bastante enquanto esteve na prisão. Me escreveu através do meu editor e recebi as cartas da prisão. E as respondi e ele era uma criatura lisonjeira, ficava me falando que as minhas histórias de sacanagem ficavam passando de cela em cela e que os garotos estavam adorando – menos um cara que achava que eu não fazia ideia de como usar a língua inglesa adequadamente – e eu respondi: diga àquele cara que ele está certo e que essa é a melhor coisa em meus textos. Outros presos começaram a me escrever, e eu descobri mais duas coisas: havia muitos homens na cadeia e a maioria deles eram escritores. Meu amigo, o presidiário, disse que também tinha cartas de William Saroyan (outro grande cara) e que minhas cartas e meus livros ainda estavam rodando freneticamente, inclusive minhas colunas em jornais underground, santo Deus, eu era demais.
Ele veio com sua velha e com outro preso que tinha acabado de sair, que também trouxe sua velha. Ele trabalhava como carpinteiro por 15 dólares e 75 a hora, e eles tinham vindo do norte para ir à Disney e me ver. Tinham quatro latas de cerveja quente e ele disse:
Deus do céu, você realmente é tão feio quanto nas fotos.
Eu sabia disso, mas não sabia que um bom homem podia manter uma ereção por uma hora e meia e trepar com uma mulher três vezes por dia. Ele nunca mencionou nada sobre a língua. Mesmo assim, alegou que a maioria dos crimes eram sexuais, ele tinha cartas do William Saroyan e ficava se inclinando sobre a lareira e abrindo e fechando o zíper enquanto olhava para a minha namorada. Ele parecia uma autoridade no assunto.
Charles Bukowski, in Pedaços de um caderno manchado de vinho

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