Quando
terminei o curso primário, fui estudar como interno em Divinópolis.
Lá, com onze ou doze anos, encontro o professor de literatura José
Dias Lara. Ele me introduz na literatura. Com ele, começo a ler
Machado de Assis, José Lins do Rego, José de Alencar. Com uma
orientação maravilhosa, devo a esse professor o meu gosto pela
literatura.
Sempre
fui um bom leitor. Tive uma professora muito interessante. Quando
entrei na escola, já sabia ler e escrever — o meu avô já havia
me ensinado. Mas tinha tanta vontade que a dona Maria Campos —
minha primeira professora — gostasse de mim, que resolvi esquecer
tudo. E aprendi tudo outra vez. Ela ficava tão feliz comigo
aprendendo tudo o tempo inteiro, rápido. E tudo o que queria na vida
era que ela gostasse de mim, mais nada.
Quando
dava aula para professores em especialização, brincava com eles.
Acho que a criança quando entra na escola, não aprende porque vai
prestar concurso, vestibular, nada disso. Ela aprende para ser amada
por aquele que sabe. E o professor é aquele que sabe e ela quer ser
amada por aquele que sabe.
Acho
que a aprendizagem no início da infância está na ordem puramente
do afetivo. Sem isso não dá. Aprendi com Merleau Ponty que a
primeira leitura que a criança faz na sala de aula é a do olhar do
professor.
Há
pessoas que quando nos olham nos afastam. Outras, quando nos olham,
nos acariciam.
Há
crianças que não aprendem porque o olhar do professor não deixa.
Há criança que não usa a liberdade porque tem medo do olhar do
professor. O olhar do professor imobiliza.
Muitas
vezes, jogamos nas costas dos métodos a não aprendizagem da
criança, quando, às vezes, a aprendizagem da criança é
interditada pelo olhar do professor, que é a primeira leitura que
ela faz.
Merleau
Ponty descobriu uma coisa fundamental. Um dia, ele olha muito tempo
para o sol e descobre que olhar dói. Ele começa, então, a fazer
uma análise dessas coisas. Começa a perceber que ouvir uma música
tão bonita às vezes pode arrepiar o meu corpo. Então, ouvir também
é tátil. No gosto, posso acordar a memória. Então, o homem é uma
coisa inteira, não é dividida em apenas cinco sentidos.
Quando
se trabalha com a infância é muito bom nos policiarmos sobre o
olhar que destinamos ao outro e que muitas vezes interdita o outro.
Não permite que a liberdade se faça ali. As crianças precisam
muito de nós, adultos. Elas precisam muito de nós para crescer e
elas sabem disso. É importante e bom fazermos essa leitura.
Bartolomeu
Campos de Queirós,
in Palestra no Teatro do Paiol, Curitiba - PR
Nenhum comentário:
Postar um comentário