Quem
viu os São Joões da cidade de Ouro Velho, entre os anos de 80 e 90,
organizados por Toinho de Nêgo Gago, e hoje contempla verdadeiras
multidões aplaudindo essas chamadas bandas de “forró eletrônico”,
vai ficar sem entender porque “involuímos” tanto e ficamos tão
pobres em relação a entretenimento, principalmente nas pequenas
cidades do interior, onde as opções de lazer estão restritas à
vontade soberana de prefeitos desonestos, inimigos da chamada cultura
de raiz.
Quem
fosse para um São João em Ouro Velho ia ter a oportunidade de ver a
Super Oara dando um verdadeiro concerto de música nordestina e
brasileira da melhor qualidade.
A
cidade era tomada por gente de outras localidades, que praticavam ali
um turismo produtivo, e não predatório como se vê com tristeza nos
eventos atuais.
Os
bares e bodegas, além das barracas, lotavam, transformando a
atmosfera da cidade que era só alegria.
No
meio desses bares, estava o de Zé Vieira, um caboclo de pele escura,
rosto redondo, atarracado, características de descendentes muito
próximos de tribos indígenas que povoaram aquela região, num
passado remoto.
Gente
alegre e sem “covardia” com nada, ainda é assim o caboclo Zé
Vieira com o seu pequeno estabelecimento, meio bar, meio restaurante,
na avenida principal da cidade, onde ainda assa na brasa de carvão
de lenha a melhor carne de sol do planeta.
Nas
festas de São João, com o bar completamente lotado, Zé Vieira mal
tinha tempo pra abrir uma cerveja ou botar uma “lapada” de cana,
tal era o volume de clientes comendo e bebendo do bom e do melhor do
seu bar. A essa altura, os mais conhecidos já iam ao freezer pegar a
cerveja por conta própria, uns pagando, outros não.
Numa
noite dessas, chega Marconi com uma proposta irrecusável pra Vieira:
–
Zé,
eu tô com uma galinha gorda lá em casa, pra te vender.
E
Zé:
–
Quanto?
–
É
15, eu te faço por 10.
Zé
topou na hora, Marconi recebeu e foi buscar a galinha.
De
fato, trouxe a penosa viva.
–
Boto
onde, Zé?
–
Tô
muito ocupado aqui, dá pra tu levar lá atrás no quintal e soltar
no chiqueiro junto com as outras?
–
Ôxe,
agora, Zé!
Só
que, quando Marconi solta a galinha, percebe que uma parte do muro,
que era uma das paredes do chiqueiro de varas, estava roída de
salina pelos bebinhos que vinham descarregar por ali.
Marconi,
sagaz, teve uma ideia: iria pelo outro lado do muro, faria um buraco
e, daí, ia tirando as galinhas que subiam numa varinha estirada por
ele pra dentro do chiqueiro e dali saíam direto prum saco que ele
levava pra não despertar desconfiança.
Agora,
era só dar a volta, entrar de novo no bar e vender mais uma “quase
de graça” ao ingênuo e ocupado Zé Vieira, que deve ter comprado
a mesma galinha pelo menos umas cinco vezes ao velho Marconi, que
descolou ali, sem muito esforço, toda a grana de que precisava pra
“brincar” naquela grande festa, que era o São João de Ouro
Velho.
Zelito
Nunes,
(Histórias
de beradeiro),
in
www.luizberto.com
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