Narrar
é um des-velamento. Desencobrir o que estava velado, no mundo
e em si mesmo, e re-velar, tornar a cobrir de véus o que
estava evidente, esconder outra vez. Esse duplo movimento, de fazer
aparecer e de fazer esconder – o excesso de luz também impede de
ver –, é a essência do bom conto. Na poesia, essa dialética
melhor se mostra. Na prosa, a luz difusa e homogênea do verbo
desgastado pela cotidianidade também permite ver, mas
superficialmente e sob um mesmo tom monocromático.
Nesse
sentido, o conto, o objeto literário que mais se assemelha à
poesia, ainda pode re-velar, desde que evite a tagarelice, o
prosaísmo, e consiga equilibrar harmonicamente fábula e trama. Se o
contista descura da última, lança o seu objeto nas águas poluídas
do entretenimento; se desmerece a primeira, arrisca-se a
descaracterizar o gênero, jogando-o no tedioso mar do lirismo em
prosa.
Um
bom conto esconde o que mostra e mostra o que esconde, exigindo um
leitor ativo, capaz de dinamizar as profundas reservas de energia que
o texto não pode sonegar, mas que não deve oferecer com a
facilidade dos anúncios publicitários.
Charles
Kiefer, in Para ser escritor
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