Mujica
vive de maneira simples. Para ele, o material amarra, complica. E seu
conceito de liberdade está associado, ao contrário da maioria dos
mortais, a possuir apenas o indispensável para viver. “Se tenho
uma casa pequena, se tenho pouco, são poucas as coisas com as quais
preciso me preocupar”, disse à televisão pública holandesa em
2014.
Depois
que o classificaram como “o presidente mais pobre do mundo”,
Mujica se incomodou. De acordo com um de seus assessores mais
próximos, o presidente passou um tempo sem querer falar com a
imprensa sobre seus bens, preferindo se concentrar em temas da
atualidade ou filosóficos. Era uma tarefa difícil — ou
impossível, a não ser que simplesmente deixasse de falar com os
meios de comunicação. Nenhum presidente do mundo vive como ele.
Para um jornalista, a notícia é, em parte, um fato insólito, novo
ou irreproduzível, e assim é Mujica em muitas de suas dimensões.
“É
um erro conceitual. Eu não sou pobre. Sou sóbrio, que é
diferente”, disse ao entrevistador holandês. “É preciso ser
humilde. As pessoas se acham o centro do universo e quando ocupam um
cargo importante e tal... O mundo continua dando voltas sem a gente.
A gente vai embora e não acontece nada”, resumiu.
“Pobres
são os que me descrevem. Minha definição é a de Sêneca: pobres
são os que necessitam de muito; se precisa de muita coisa, é
insaciável. Eu sou sóbrio, não pobre. Sóbrio. Com a bagagem leve.
Viver com pouco, com o imprescindível. E não estar muito amarrado a
questões materiais. Por quê? Para ter mais tempo. Mais tempo livre
[...] para poder fazer as coisas de que eu gosto. A liberdade é ter
tempo para viver. Então, há uma filosofia de vida na sobriedade que
eu pratico. Mas não sou pobre”, respondeu em outra ocasião a uma
repórter da emissora Al Jazeera, na declaração talvez mais clara
sobre seu estilo de vida simples.
O
desapego material de Mujica é conhecido e ele se encarrega de deixar
claro, em discursos, entrevistas e ações, que se trata efetivamente
de uma filosofia de vida.
“Temos
sacrificado os velhos deuses imateriais e ocupamos o templo com o
‘deus mercado’. É ele quem organiza nossa economia, a política,
os hábitos, a vida e até financia em parcelas e cartões a
aparência da felicidade. Parece que nascemos só para consumir e
consumir e, quando não podemos, carregamos a frustração, a pobreza
e até a autoexclusão”, disse aos colegas presidentes, em 2013, na
Organização das Nações Unidas. “Parece que as coisas ganharam
autonomia e submetem os homens”, concluiu Mujica em um dos
discursos mais memoráveis dos últimos tempos em uma Assembleia
Geral da ONU.
Mauricio
Rabuffetti, in Mujica – a revolução tranquila
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