quinta-feira, 1 de outubro de 2015

Estrelas

-As estrelas, meu Deus! Olha só para estas estrelas – disse repentinamente, com entonação pesada e cantante, uma voz que parecia vir de dentro de um tonel. Já a conhecia. Pertencia a um homem ruivo, vestido com simplicidade, de pálpebras vermelhas e um aspecto úmido e frio, como se acabasse de tomar banho. Fora o vizinho de Tonio Kroeger, durante o jantar na cabina, e havia consumido com hesitação e movimentos modestos, porções espantosas de omelete de lagosta. Agora encostava-se ao lado dele na amura e olhava para o céu segurando o queixo com o polegar e o indicador. Sem dúvida encontrava-se numa dessas disposições extraordinárias e festivas, nas quais as barreiras entre os homens caem, nas quais o coração também se abre para estranhos e a boca diz coisas que em outra ocasião, envergonhada, guardaria para si...”
Thomas Mann, in Tonio Kroeger

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