quinta-feira, 3 de setembro de 2015

Às vezes é preciso odiar

Ilustração de Beto Janz, designer brasileiro

O título do post pode soar pesado demais ou até mesmo agressivo. Mas quanto mais passa o tempo, percebo que em alguns casos precisamos odiar. Odiar o que nos faz mal, o que nos limita a liberdade, o que nos rouba o sorriso de nossos lábios, o que arranca do nosso peito a esperança.
É preciso odiar quem rouba a esperança dos outros. É preciso odiar sistemas injustos, estratégias manipulatórias, uma vida vazia e sem sentido. É preciso odiar quem nos agride gratuitamente, quem nos boicota por inveja, quem nos nega por mesquinharia, quem trucida nossos sentimentos sem dó nem piedade.
É preciso odiar a futilidade, a ganância, a soberba, a hipocrisia, a exploração. É preciso odiar o fato de pessoas dormirem nas ruas. É preciso odiar que algumas pessoas se comprazem com a tristeza alheia e enriquecem à custa da miséria dos outros. É preciso odiar a modorra, a mesmice, o desperdício da vida.
Sem a experimentação do ódio, ficamos inertes, parados no mesmo lugar, imbecilizados, atropelados pelos acontecimentos. Sem a experimentação do ódio viramos personagens coadjuvantes ou, até mesmo, figurantes da nossa própria vida.
É preciso indignar-se, revoltar-se. É preciso dizer não a uma vida mecânica. É preciso rebelar-se contra nossos algozes. É no silêncio do omisso que o mal se fortalece. É na indiferença das pessoas e do dia a dia que o mundo não muda.
O omisso crê que não prejudica ninguém porque nada realiza ou diz. Mas sem o omisso, não haveria o bullying, o assédio moral, as injustiças sociais, os preconceitos, as pequenas corrupções cotidianas. É preciso odiar os déspotas. É preciso parar de justificar e entender quem passa por cima dos outros como um trator gigante. É preciso parar de se apiedar de quem não tem piedade por ninguém. Sim, às vezes, é preciso odiar.
Sílvia Marques, in obviousmag.org

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