Ilustração de Beto Janz, designer brasileiro
O
título do post pode soar pesado demais ou até mesmo agressivo. Mas
quanto mais passa o tempo, percebo que em alguns casos precisamos
odiar. Odiar o que nos faz mal, o que nos limita a liberdade, o que
nos rouba o sorriso de nossos lábios, o que arranca do nosso peito a
esperança.
É
preciso odiar quem rouba a esperança dos outros. É preciso odiar
sistemas injustos, estratégias manipulatórias, uma vida vazia e sem
sentido. É preciso odiar quem nos agride gratuitamente, quem nos
boicota por inveja, quem nos nega por mesquinharia, quem trucida
nossos sentimentos sem dó nem piedade.
É
preciso odiar a futilidade, a ganância, a soberba, a hipocrisia, a
exploração. É preciso odiar o fato de pessoas dormirem nas ruas. É
preciso odiar que algumas pessoas se comprazem com a tristeza alheia
e enriquecem à custa da miséria dos outros. É preciso odiar a
modorra, a mesmice, o desperdício da vida.
Sem
a experimentação do ódio, ficamos inertes, parados no mesmo lugar,
imbecilizados, atropelados pelos acontecimentos. Sem a experimentação
do ódio viramos personagens coadjuvantes ou, até mesmo, figurantes
da nossa própria vida.
É
preciso indignar-se, revoltar-se. É preciso dizer não a uma vida
mecânica. É preciso rebelar-se contra nossos algozes. É no
silêncio do omisso que o mal se fortalece. É na indiferença das
pessoas e do dia a dia que o mundo não muda.
O
omisso crê que não prejudica ninguém porque nada realiza ou diz.
Mas sem o omisso, não haveria o bullying, o assédio moral, as
injustiças sociais, os preconceitos, as pequenas corrupções
cotidianas. É preciso odiar os déspotas. É preciso parar de
justificar e entender quem passa por cima dos outros como um trator
gigante. É preciso parar de se apiedar de quem não tem piedade por
ninguém. Sim, às vezes, é preciso odiar.
Sílvia
Marques, in obviousmag.org
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