“A
polidez é uma convenção tácita para ignorarmos a mísera condição
moral e intelectual do ser humano e assim evitarmos acusá-la
mutuamente; desse modo, ela vem menos a lume, para proveito de todos.
Polidez é inteligência; consequentemente, impolidez é parvoíce.
Criar inimigos por impolidez, de maneira desnecessária e caprichosa,
é tão demente quanto pegar fogo à própria casa. Pois a polidez,
como as fichas de jogo, é notoriamente uma moeda falsa: economizá-la
é prova de insensatez. Pelo contrário, gastá-la em profusão é
prova de sensatez. Todas as nações concluem as suas cartas com seu
mui obediente servidor.
Só os alemães suprimem o servidor
porque, segundo dizem, não é verdadeiro! Quem, pelo contrário,
leva a polidez até ao sacrifício dos interesses reais, assemelha-se
àquele que, em lugar das fichas de jogo, desse autênticas moedas de
ouro. Do mesmo modo que a cera, dura e quebradiça, torna-se maleável
com um pouco de calor, assumindo qualquer forma desejada, também se
pode, com alguma polidez e amabilidade, tornar flexíveis e dóceis
os homens recalcitrantes e hostis. A polidez, portanto, é para o
homem o que o calor é para a cera.”
Arthur
Schopenhauer,
in
Aforismos para a Sabedoria de Vida
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