terça-feira, 11 de agosto de 2015

Sixto Rodriguez e a trilha sonora que derrubou o apartheid

Sem saber, Sixto Rodriguez foi uma lenda da música durante e depois do "apartheid", na África do Sul. Ele compôs a trilha sonora que incentivou a revolta popular contra o regime opressor da época. Tornou-se um ídolo nacional, comparável a Elvis Presley em termos de popularidade e a Bob Dylan quanto ao seu talento para compor letras impactantes e inesquecíveis. Em 2012, um documentário retratou como tudo começou e como ele alcançou o merecido reconhecimento.

Capa do Álbum Coming from reality, de 1971

Demorou. Mas, finalmente, o superpremiado documentário “Searching For Sugar Man” (2012) foi lançado no Brasil, em DVD, narrando uma das histórias mais espetaculares do mundo da música.
Nascido no México, Sixto Rodriguez cresceu em Detroit, Estados Unidos, onde seu pai encontraria trabalho mais facilmente, em montadoras de automóveis. No começo da década de 1970, os bares de uma determinada região da cidade costumavam ter músicos se apresentando em meio a muita fumaça e pouca luz. Ao final de cada música, ouviam-se poucos aplausos, sem muito entusiasmo.
Apesar disso, esses bares eram uma ótima fonte para os “caçadores” de talentos das gravadoras. Durante uma dessas “caçadas”, Sixto Rodriguez foi descoberto e logo gravou dois discos: “Cold Fact” (1970) e “Coming From Reality” (1971).
Esses discos nunca foram comercializados nos Estados Unidos, por decisão das gravadoras. Consequentemente, suas músicas não tocavam nas rádios. Assim, Sixto Rodriguez nunca foi conhecido em seu país, exceto em algumas construções, já que, sem decolar na carreira musical, tornou-se pedreiro – e dos bons.
Na mesma época, acontecia o ápice do “apartheid”, na África do Sul.
O que tem a ver uma coisa com a outra? Simplesmente, tudo.
De algum modo até hoje misterioso, os discos de Sixto Rodriguez chegaram na África do Sul naquela mesma época e foram se multiplicando em cópias “piratas” por todo o país.
Em pouco tempo, Rodriguez não era somente conhecido em toda a África do Sul, mas um ídolo nacional, do mesmo nível de Elvis Presley, Beatles, Rolling Stones...
Rodriguez foi uma referência, um ídolo, da maioria dos sul-africanos, senão de todos. E em seu país, os Estados Unidos, e no resto do mundo? Um desconhecido.
Assim como aconteceu no Brasil nos árduos tempos da ditadura militar, alguns artistas usaram a música para expressar sua opinião sobre a realidade nacional, burlando, com extrema habilidade e talento, a censura que imperava na época.
A diferença, no caso de Rodriguez e da África do Sul, é que tudo aconteceu por mero acaso.
As músicas de Rodriguez não foram compostas para protestar contra algum regime ditatorial, contra um sistema injusto, opressor e cruel, mas se encaixavam perfeitamente na realidade enfrentada pelos sul-africanos, em decorrência do “apartheid”.
Sabe-se que foi um regime extremamente conservador e opressor. A população não tinha acesso a informações claras sobre as questões políticas locais, tampouco sabia como essa realidade era analisada fora do país (se soubesse, a revolta ganharia força).
Em contrapartida, em suas músicas, Rodriguez falava de liberdade, sexo, drogas... produtores o comparavam a Bob Dylan por suas composições. Quis o destino que seus discos encontrassem uma população sedenta por revolução, por mudança de rumo em suas vidas.
A filosofia revolucionária de Rodriguez, que encantou os sul-africanos naquele momento, está escancarada em “I Wonder”, com referências diretas a liberdade e sexo; em “Sugar Man”, falando abertamente de drogas; e em “Establishment Blues”, um franco incentivo à revolução.
Veja a matéria completa da Obvious aqui.

Nenhum comentário:

Postar um comentário