Levei ao Dr. Kafka uma antologia tcheca
de poemas religiosos franceses.
Ele folheou um momento o pequeno volume,
depois empurrou-o cautelosamente em minha direção fazendo-o
deslizar sobre a mesa.
- Este gênero de literatura é um
estímulo requintado que não me agrada. A religião está derramada
aí num alambique de onde só ressalta o esteticismo. O que é um
meio de dar sentido à vida torna-se um estimulante, um objetivo
decorativo e pretensioso como são, por exemplo, as cortinas
luxuosas, quadros, móveis esculpidos ou autênticos tapetes persas.
A religião desse gênero de literatura é um esnobismo.
Aprovei: - Tem razão, a guera produziu
substitutivos até no domínio da fé. É esse gênero de literatura.
Os poetas se apoderam da ideia de Deus como de uma bonita gravata na
moda.
Sorrindo, Kafka veio em minha direção e
acrescentou:
- E essa gravata é simplesmente uma
corda que eles botam no pescoço. Como toda vez que utilizamos a
transcendência como escapatória.
Gustav
Janouch, in Conversas com Kafka
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