Edgar
Degas (1834-1917) tinha uma verdadeira fixação por bailarinas. Das
suas 2000 obras, mais da metade retratam bailarinas do corpo de
ballet da Ópera de Paris. Desde o ano de 1970, Degas pintou
obsessivamente cenas de bailarinas enquanto elas estavam no palco,
durante uma apresentação, em seus ensaios e momentos de descanso.
Foi
durante a umas de suas frequentes visitas à Ópera de Paris que
Degas conheceu a jovem bailarina Marie van Goethem, uma estudante de
ballet. Marie ingressou no ballet da Ópera de Paris aos treze anos,
na qual estudou até os dezesseis anos. Era filha de uma lavadeira e
um alfaiate que viviam com constantes problemas financeiros. Era na
Ópera de Paris que se localizava a escola de dança, onde jovens
dançarinas eram aceitas a partir dos dez anos de idade, e onde Marie
e suas irmãs estudaram.
As
bailarinas, em geral, eram filhas de operários e outros
trabalhadores, que buscavam através da dança uma ascensão social e
estabilidade financeira. De sua história sabemos que sua irmã mais
velha foi presa por roubar um cliente no famoso bar parisiense Chat
Noir. Após esse evento, Marie acumulou uma série de faltas em suas
aulas de ballet, as quais resultaram em sua dispensa. É muito
provável que, como sua irmã, Marie tenha sido obrigada por sua mãe
a se prostituir. É fácil deduzir que seu fim foi trágico.
Mas
a jovem Marie seria imortalizada na escultura “La
Petite Danseuse de Quatorze Ans, c. 1881”.
Ao
exibir esta escultura deixou os seus colegas chocados, assim como
toda a “boa sociedade” da época. Degas fê-la com o propósito
de deixar bem marcados na cera (material com que esculpiu a
bailarina) os seus sentimentos face àquela miséria fútil, na qual
viviam milhares de parisienses. A sua face mostra o árduo trabalho
com o qual conviveu.
Apresentada
na “Sexta
Exposição Impressionista” de
1881, em uma caixa de cristal, a obra recebeu críticas diversas e
escandalizou a sociedade. O meio parisiense ficou chocada ao
encontrar em um museu a figura de uma bailarina – principalmente
pelo fato do ballet estar muitas vezes ligado ao tráfico de meninas,
prostituição e escândalos de abuso sexual. Os pais burgueses
diziam: “Que Deus nos livre de uma filha bailarina!”. Os próprios
salões da Ópera de Paris eram pontos de encontros de homens ricos e
poderosos que buscavam jovens amantes. Era lá que se encontravam a
arte e a prostituição. Somado a isso, um crítico do período
escreveu: “Parece
um macaco, um asteca, um feto. Se fosse menor, teríamos a tentação
de colocá-la em um vidro de formol”. Sugeriram que a pequena bailarina deveria estar em um museu de
medicina ou de etnologia, nunca em um museu de arte.
Todos
perguntavam o porquê de estar ali exposta aquela escultura. Aquilo
comovia a sociedade, remexia-lhes o peito, fazia-os tristes, não
queriam olhar. Por outro lado, esta escultura foi o primeiro trabalho
nesta área da arte que incluiu uma roupa real, desta feita uma saia.
A
partir daí, o mundo começou a refletir sobre aquele aristocrata que
se atreveu a provocar a sociedade e Degas foi, de algum modo,
rejeitado e até mesmo humilhado. Mas ninguém se pôde esquecer que
ele mudara a visão conservadora e eclética do mundo, e não se
esqueceu de publicitar e de tornar públicos os problemas deste. Anos
mais tarde, a famosa escultura tornou-se um ícone desta forma de
arte. Degas rompia com todos os modelos estéticos e temáticos aos
quais os parisienses haviam se acostumado. E por isso mesmo foi um
marco na história da arte, tornando impossível deixar de se referir
a ele como um dos maiores revolucionários da arte do século XIX e
de todos os tempos.
Fonte:
mysouldancer.wordpress.com
Belíssimo!
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