quinta-feira, 20 de agosto de 2015

A Pequena Bailarina de 14 anos (1881), de Edgar Degas


Edgar Degas (1834-1917) tinha uma verdadeira fixação por bailarinas. Das suas 2000 obras, mais da metade retratam bailarinas do corpo de ballet da Ópera de Paris. Desde o ano de 1970, Degas pintou obsessivamente cenas de bailarinas enquanto elas estavam no palco, durante uma apresentação, em seus ensaios e momentos de descanso.
Foi durante a umas de suas frequentes visitas à Ópera de Paris que Degas conheceu a jovem bailarina Marie van Goethem, uma estudante de ballet. Marie ingressou no ballet da Ópera de Paris aos treze anos, na qual estudou até os dezesseis anos. Era filha de uma lavadeira e um alfaiate que viviam com constantes problemas financeiros. Era na Ópera de Paris que se localizava a escola de dança, onde jovens dançarinas eram aceitas a partir dos dez anos de idade, e onde Marie e suas irmãs estudaram.


As bailarinas, em geral, eram filhas de operários e outros trabalhadores, que buscavam através da dança uma ascensão social e estabilidade financeira. De sua história sabemos que sua irmã mais velha foi presa por roubar um cliente no famoso bar parisiense Chat Noir. Após esse evento, Marie acumulou uma série de faltas em suas aulas de ballet, as quais resultaram em sua dispensa. É muito provável que, como sua irmã, Marie tenha sido obrigada por sua mãe a se prostituir. É fácil deduzir que seu fim foi trágico.
Mas a jovem Marie seria imortalizada na escultura “La Petite Danseuse de Quatorze Ans, c. 1881”.
Ao exibir esta escultura deixou os seus colegas chocados, assim como toda a “boa sociedade” da época. Degas fê-la com o propósito de deixar bem marcados na cera (material com que esculpiu a bailarina) os seus sentimentos face àquela miséria fútil, na qual viviam milhares de parisienses. A sua face mostra o árduo trabalho com o qual conviveu.


Apresentada na “Sexta Exposição Impressionista” de 1881, em uma caixa de cristal, a obra recebeu críticas diversas e escandalizou a sociedade. O meio parisiense ficou chocada ao encontrar em um museu a figura de uma bailarina – principalmente pelo fato do ballet estar muitas vezes ligado ao tráfico de meninas, prostituição e escândalos de abuso sexual. Os pais burgueses diziam: “Que Deus nos livre de uma filha bailarina!”. Os próprios salões da Ópera de Paris eram pontos de encontros de homens ricos e poderosos que buscavam jovens amantes. Era lá que se encontravam a arte e a prostituição. Somado a isso, um crítico do período escreveu: Parece um macaco, um asteca, um feto. Se fosse menor, teríamos a tentação de colocá-la em um vidro de formol”. Sugeriram que a pequena bailarina deveria estar em um museu de medicina ou de etnologia, nunca em um museu de arte.
Todos perguntavam o porquê de estar ali exposta aquela escultura. Aquilo comovia a sociedade, remexia-lhes o peito, fazia-os tristes, não queriam olhar. Por outro lado, esta escultura foi o primeiro trabalho nesta área da arte que incluiu uma roupa real, desta feita uma saia.


A partir daí, o mundo começou a refletir sobre aquele aristocrata que se atreveu a provocar a sociedade e Degas foi, de algum modo, rejeitado e até mesmo humilhado. Mas ninguém se pôde esquecer que ele mudara a visão conservadora e eclética do mundo, e não se esqueceu de publicitar e de tornar públicos os problemas deste. Anos mais tarde, a famosa escultura tornou-se um ícone desta forma de arte. Degas rompia com todos os modelos estéticos e temáticos aos quais os parisienses haviam se acostumado. E por isso mesmo foi um marco na história da arte, tornando impossível deixar de se referir a ele como um dos maiores revolucionários da arte do século XIX e de todos os tempos.
Fonte: mysouldancer.wordpress.com

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