terça-feira, 7 de julho de 2015

Tratores


As casas, nos campos, tinham sido abandonadas, e os campos consequentemente, também haviam sido abandonados. Somente na garagem dos tratores, cujas chapas onduladas brilhavam como prata polida, havia vida e esta vida era alimentada com metal, gasolina e óleo, enquanto os discos dos arados brilhavam ao sol. Os tratores tinham luzes brilhantes, visto que, para um trator, não existe noite ou dia, e os seus discos de arar revolvem a terra na escuridão e luzem à claridade do dia. Quando um cavalo deixa de trabalhar e recolhe à cocheira, a vitalidade continua nele, há respiração e calor, e as patas pisam a palha caída, as mandíbulas trituram o feno e as orelhas e os olhos continuam a agitar-se. Um calor vital reina na cocheira: o calor e o cheiro da vida. Mas, quando o motor de um trator suspende sua atividade, tudo para e tudo se torna morto como o metal de que o trator é feito. O calor abandona-o, como o calor vital abandona o cadáver. E então as chapas onduladas fecham-se e o motorista do trator vai para a cidade de onde veio, talvez a uma distância de vinte milhas e não precisa de voltar por semanas ou meses, pois que o trator está morto.”
John Steinbeck, in As vinhas da ira

Nenhum comentário:

Postar um comentário