“As
casas, nos campos, tinham sido abandonadas, e os campos
consequentemente, também haviam sido abandonados. Somente na garagem
dos tratores, cujas chapas onduladas brilhavam como prata polida,
havia vida e esta vida era alimentada com metal, gasolina e óleo,
enquanto os discos dos arados brilhavam ao sol. Os tratores tinham
luzes brilhantes, visto que, para um trator, não existe noite ou
dia, e os seus discos de arar revolvem a terra na escuridão e luzem
à claridade do dia. Quando um cavalo deixa de trabalhar e recolhe à
cocheira, a vitalidade continua nele, há respiração e calor, e as
patas pisam a palha caída, as mandíbulas trituram o feno e as
orelhas e os olhos continuam a agitar-se. Um calor vital reina na
cocheira: o calor e o cheiro da vida. Mas, quando o motor de um
trator suspende sua atividade, tudo para e tudo se torna morto como o
metal de que o trator é feito. O calor abandona-o, como o calor
vital abandona o cadáver. E então as chapas onduladas fecham-se e o
motorista do trator vai para a cidade de onde veio, talvez a uma
distância de vinte milhas e não precisa de voltar por semanas ou
meses, pois que o trator está morto.”
John
Steinbeck,
in As
vinhas da ira
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