“Não
sabes a força que têm os anjos, com um só dedo levantariam uma
montanha, o que me vale é serem tão disciplinados, não fosse isso
e já teriam organizado um complô para me deporem, Como satã, disse
caim, Sim, como satã, mas a este já lhe encontrei a maneira de o
trazer contente, de vez em quando deixo-lhe uma vítima nas mãos
para que se entretenha, e isso lhe basta, Tal como fizeste a job, que
não ousou amaldiçoar-te, mas que leva no coração toda a amargura
do mundo, Que sabes tu do coração de job, Nada, mas sei tudo do meu
e alguma coisa do teu, respondeu caim, Não creio, os deuses são
como poços sem fundo, se te debruçares neles nem mesmo a tua imagem
conseguirás ver, Com o tempo todos os poços acabam por secar, a tua
hora também há-de chegar. O senhor não respondeu, mas olhou
fixamente caim e disse, O teu sinal na testa está maior, parece um
sol negro a levantar-se do horizonte dos olhos, Bravo, exclamou caim
batendo palmas, não sabia que fosses dado à poesia, É o que eu
digo, não sabes nada de mim.”
José
Saramago, in Caim
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