“Cá
entre nós, a servidão, de preferência sorridente, é, portanto,
inevitável. Mas não devemos reconhecer isso. Quem não pode deixar
de ter escravos, não fará melhor chamando-os de homens livres? Por
princípio, em primeiro lugar, e depois para não desesperá-los.
Esta compensação certamente lhes é devida, não acha? Desse modo,
eles continuarão a sorrir e nós ficaremos com a consciência
tranquila. Sem isso, seríamos forçados a mudar de opinião,
ficaríamos loucos de dor, ou até modestos, deve-se temer tudo. Por
isso, nada de insígnias, e isto é escandaloso. Aliás, se todo
mundo se sentasse à mesa e ostentasse sua verdadeira profissão, sua
identidade, já nem saberíamos para que lado haveríamos de nos
voltar! Imagine os cartões de visita: Dupont, filósofo apavorado ou
proprietário cristão ou humanista adúltero, na verdade, nós temos
a escolha. Mas seria o inferno! Sim, o inferno deve ser assim: ruas
com insígnias e nenhuma possibilidade de explicação. Fica-se
classificado de uma vez para sempre.”
Albert
Camus,
in A
queda
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