A
fera fornida de uma locomotiva herbívora: potestade e butim de
proteínas. gozando dos reais arrimos da caça exclusiva, o bisonte
lambe no córrego a chaga aberta pela flecha cega. acompanha o homem
da pólvora à pedra. vão suas peles sobre corpos e frestas,
despojos sob neves de inúmeras eras. de faro bufante e olhos
gélidos, ele enxerga cheiros até na relva mais úmida. aos cercos
da caça nem sempre sucumbe. ouve ao longe o passo oculto que o
espreita e desconfia ruminando gravetos, ossos que ele pisoteia sob
as cotas da lã feita de sua juba. o bisonte foi o leão bovino das
tundras.
em
sua bolha de couro e sangue, o bisonte entre manadas de carcaças. de
suas omoplatas surgiram machados. o Minotauro e o Ápis foram seus
melhores disfarces, bem como os troféus dos taxidermistas mais
hábeis. o apojo do seu leite consagrou a primeira libação à
tauromaquia. quem o bebe em seus cornos inventa o copo e a xícara.
sua ossatura é inteiramente granítica (quartzo, feldspato e mica).
quando estático armazena-se em fúria e porfia. zaino um bisonte em
seu próprio sangue se pinta.
no
touro do holocausto, no búfalo do arado ou na bossa do zebu no
pasto, a longa estirpe do bisonte, a prima letra de todo nome: o
áleph,
o alif
e
o alfa.
semítico, grego ou fenício, em carne e osso o bisonte é começo e
princípio de um A já sempre escrito desapercebido, domesticado e
dócil, mugindo como a mansa vaca de um sítio. mas ocultando a dura
passagem do vulto ao signo, nosso estreito de Bering entre a caverna
e o livro.
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