quinta-feira, 21 de maio de 2015

Amaro, ô seu peste

Udenista, pessedista, qualquer. Amaro já viu muito cabra na agonia, não viu, Amaro? Não tem jeito, quando está dirigindo não gosta de prosa. Não ser quando dá bigu às raparigas. Não semos raparigas, pelo menos eu não sou rapariga, desculpe. Oi Amaro, uh-uh Amaro, ô seu peste, quando um homem fala tu responde. Um dia desses com essa macriação algum macho lhe tira-lhe o fato fora, que tu só vai ter tempo de espiar as tripas, rezar meia salverrainha, um quarto de atodecontição e escolher o melhor lugar no barro para se ajeitar, e ligeiro ligeiro, que possa ser que antes de chegar já tenha ido. Oi Amaro, inda mais que tu é frouxo por demasiado. Vosmecê sabe, esse apustemado é de Muribeca. Povo de Muribeca não presta, tudo tabaréu, lá não tem nada, não sabe vosmecê. Amaro, ou você fala ou eu me ferro. An-bem. Hum. Chu. Estrada de carroça, tudo desmazelado. Já botei muito cabra para correr assim na escuridão peluma estrada dessa. Casos menores, remédios outros. Temos dois tonéus na delegacia de Frei Paulo, para ser enchidos com lata de gás furada. O bicho entra na chave e pega a encher os tonéus, só que tem de correr, do contrário a lata desvazia antes, pois os buracos são muitos e coculados. Bóia, saroios e macasadas, quando há, dormidas ou não, de acordo. Azeda no bucho e pode dar malinagem na barriga. Domingo, feijão como vem, folha de couve ou outra naquela água acastanhada, não petece mesmo, não é comigo não. Casos mais graves requer a expulsão do alguém. Meia libra de bacalhau cru quando haja, quando não haja possa ser jabá mesmo, gorda ou não, sem escaldo. Segue um copo de óleo de rício, esse gordo que chega as bolhas a se abrir em cima, recindendo mamona.”
João Ubaldo Ribeiro, in Sargento Getúlio

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