“Os
Estados ocidentais sentiam-se inquietos como os cavalos antes da
trovoada. Os grandes proprietários inquietavam-se, pressentindo a
metamorfose, sem atinarem, no entanto, com a sua natureza. Os grandes
proprietários atacavam o que lhes ficava mais próximo: o governo de
poder crescente, a unidade trabalhista cada vez mais firme; atacavam
os novos impostos e os novos planos, ignorando que todas essas coisas
são efeitos e não causas. As causas escondiam-se bem no fundo e
eram simples – as causas eram a fome, a barriga vazia, multiplicada
milhões de vezes, fome na alma, fome de um pouco de prazer e de um
pouco de tranquilidade, multiplicada milhões de vezes; músculos e
cérebros que ansiavam por crescer, trabalhar, criar, multiplicados
milhões de vezes. A última função clara e definida do homem –
músculos que querem trabalhar, cérebros que querem criar algo além
da mera necessidade – isto é o homem. Construir um muro, construir
uma casa, um dique, e pôr nesse muro, nessa casa, nesse dique algo
do próprio homem, é retirar para o homem algo desse muro, dessa
casa, desse dique. Obter músculos fortes à força de movê-los,
obter linhas e formas elegantes pela concepção. Porque o homem, ao
contrário de qualquer coisa orgânica ou inorgânica do universo,
cresce para além do seu trabalho, galga os degraus das suas próprias
ideias, emerge acima das próprias realizações. É isto o que se
pode dizer a respeito do homem.”
John
Steinbeck,
in As
vinhas da ira
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