“E
o que poderia pensar [uma pessoa] nesse momento decisivo? Que a
justiça distributiva só faz sentido caso se acredite na igualdade
moral de todos os seres humanos, na necessidade que todos os seres
humanos, têm de liberdade individual, no fato de que tal liberdade
depende de determinados bens materiais e na viabilidade de o Estado
garantir a distribuição desses bens? É pouco provável. A maioria
das pessoas se sentirá tocada, por exemplo, pelas circunstâncias
opressivas sofridas pelos pobres nas áreas mais antigas e decadentes
das metrópoles norte-americanas, e, em sua empatia, descobrem na
“justiça distributiva” uma boa maneira de expressar aquilo que
gostariam que fosse feito por eles. Ou então se sentirão indignadas
diante de fotos de crianças sem-teto ou de histórias nos jornais
sobre pessoas que morrem de doenças que seriam facilmente curáveis
se tivessem assistência médica. Ou ainda, elas se sentirão
indignadas diante da ultrajante riqueza ostentada por algumas pessoas
em Beverly Hills ou em Manhattan. E o que elas querem
dizer,
então, com a “justiça distributiva” que apoiam? Podem não
saber exatamente. Com certeza, querem dizer que ninguém deveria
viver, geração após geração, nas condições que os pobres têm
de enfrentar nas metrópoles norte-americanas, que todas as crianças
deveriam ter um teto sobre suas cabeças, ou que o luxo desmesurado é
injustificável quando outros mal conseguem sobreviver, mas não é
preciso que disponham de uma teoria elaborada para explicar como os
males que veem se conectam uns aos outros ou deveriam ser curados.
Conforme cada pessoa se junta à corrente histórica daqueles que
acreditaram na justiça distributiva (ou que desacreditaram nela),
essa pessoa não precisa saber exatamente o que é aquilo a que se
vinculou. A história da ideia, assim como seu uso mais amplo no
momento em que tal pessoa se agarra a ela, lhe confere conotações
de que ela não precisa compartilhar conscientemente.”
Samuel
Fleischacker,
in Uma breve
história da justiça distributiva
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