“Criança
feliz e saudável, cresci num mundo luminoso de livros ilustrados,
areias alvas, laranjeiras, cachorros fiéis, panoramas marinhos e
rostos sorridentes. O esplêndido Hotel Mirana girava em torno de mim
como uma espécie de universo privado, um cosmo caiado de branco
dentro daquele outro, azul e maior, que refulgia lá fora. Da
lavadora de pratos em seu avental de algodão ao potentado no terno
de flanela, todos gostavam de mim, todos me mimavam. Velhas senhoras
americanas, apoiadas em bengalas, inclinavam-se sobre mim qual torres
de Pisa. Princesas russas arruinadas, que não tinham meios de pagar
a meu pai, compravam-me caros bombons. Ele, mon
cher petit papa,
levava-me para passear de barco ou de bicicleta, ensinava-me a nadar,
mergulhar e andar de esqui aquático, lia-me Dom Quixote e Os
miseráveis - e eu o adorava e respeitava, sentindo-me feliz por ele
quando por acaso ouvia a criadagem comentar suas várias amizades
femininas, belas e meigas criaturas que me devotavam grande atenção,
derramando preciosas lágrimas sobre minha alegre orfandade.”
Vladimir
Nabokov,
in Lolita
Nenhum comentário:
Postar um comentário