“Há
certas circunstâncias e ocasiões bizarras neste estranho e caótico
negócio que chamamos de vida nas quais um homem considera todo o
universo uma grande piada, ainda que mal perceba a sua graça, e mal
do que suspeita que a piada seja feita à sua custa e de mais
ninguém. No
entanto, nada o desanima, e nada parece valer o esforço de uma
disputa. Ele engole todos os acontecimentos, todas as crenças e
credos, e convicções, todas as coisas difíceis, visíveis ou
invisíveis, pouco importando quão intricadas sejam; como uma
avestruz
de estômago poderoso devora cartuchos e pedras de fuzis. Quanto às
pequenas dificuldades e preocupações, expectativas de desastres
súbitos, perigo de vida ou ferimentos; tudo isso e a própria morte
lhe parecem apenas manhosos e bem-humorados safanões, tapas nas
costas dados pelo galhofeiro invisível e inexplicável. Esse tipo
estranho de humor caprichoso ao qual me refiro assola o homem apenas
nos momentos de tribulação extrema; assola-o em meio à sua
seriedade, de tal modo que aquilo que lhe parecia uma coisa muito
importante se afigura, então, como parte da piada geral. Não há
nada como os perigos da pesca da baleia para gerar esse tipo
indulgente e liberto de filosofia genial daquele que não tem nada a
perder; e assim eu agora encarava toda a viagem do Pequod,
e a grande Baleia Branca, seu propósito.”
Herman
Melville, in Moby Dick
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