quinta-feira, 12 de fevereiro de 2015

Não sabemos quem somos

“É inútil negar, o homem é obsedado pela ideia de Deus. Tudo o que faz – quer se manifeste à luz do sublime ou do ignominioso, é um esforço para provar a si mesmo, consciente ou não, a realidade ou o mito da sombra de Deus. Já é uma filosofia banal afirmar que, no entanto, toda a Criação está vincada pela presença de uma entidade incompreensível. (Pois Deus é incompreensível, e aí reside sua grandeza. Os tolos, os que não podem deixar de reduzir as coisas à sua própria altura, julgam-no uma equação resolvida – mas quanto mais é profunda a nossa fé, mais fechada e mais espantoso é o segredo). Não, não é possível fugir: não sabemos quem somos, e nossa angústia ante este fato, justifica o mistério que nos obseda. Somos a pequena afirmação de alguma coisa imensa que não foi levada às suas últimas consequências – e o que quer que seja, só pode ser uma arquitetura no invisível. A qualquer momento, podemos deixar de existir, e neste caso Deus existe, porque não temos a quem doar a esperança que nos foi dada. Certamente há homens sem esperança, mas entre todos é o ser mais triste pois representa o ateu completo. O único para quem nada tem motivo, para quem este mundo tosco e cheio de arestas informes representa um todo fechado, uma finalidade.”
Lúcio Cardoso, in Diários

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