Os homens que voltaram da guerra
traziam feridas e pesadelos. Encontraram suas amadas indiferentes. Passara
tanto tempo que algumas nem se lembravam deles, e muitas tinham estabelecido
novos amores.
Uma, entretanto, permaneceu
lembrada e fiel, e atirou-se com fúria passional aos braços do ex-guerreiro.
Ele a repeliu, dizendo:
― Não quero mais ver a
guerra diante de mim.
― Eu não sou a guerra, sou o
amor, querido ― respondeu-lhe a mulher, assustada.
― Você é a imagem da guerra,
você me agarrou como o inimigo na luta corpo a corpo, eu não quero saber de
você.
― Então farei carícias
lentas e suaves.
― O inimigo também passa a
mão de leve pelo corpo do soldado caído, para tirar o que houver no uniforme.
― Ficarei quieta, não farei
nada.
― Não fazer nada é a atitude
mais suspeita e mais perigosa do inimigo, que nos observa para nos atacar à
traição.
Separaram-se
para sempre.
Carlos Drummond de Andrade, in Contos Plausíveis
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