“(...) O homem é um animal que, quando vive entre
outros de sua espécie, tem necessidade de um senhor. Pois ele certamente abusa
de sua liberdade relativamente a seus semelhantes; e, se ele, como criatura
racional, deseja uma lei que limite a liberdade de todos, sua inclinação animal
egoísta o conduz a excetuar-se onde possa. Ele tem necessidade de um senhor que
quebre sua vontade particular e o obrigue a obedecer à vontade universalmente
válida, de modo que todos possam ser livres. Mas de onde tirar esse senhor? De
nenhum outro lugar senão da espécie humana. Mas este é também um animal que tem
necessidade de um senhor. Seja qual for o começo, não se vê como o homem pode
se dar, para estabelecer a justiça pública, um chefe que também seja justo -
ele pode procurá-lo numa única pessoa ou num grupo de pessoas escolhidas para
isso. Pois todos eles abusarão sempre de sua liberdade, se não tiverem acima de
si alguém que exerça o poder segundo as leis. O supremo chefe deve ser justo
por si mesmo e todavia ser um homem. Esta tarefa é, por isso, a mais difícil de
todas; sua solução perfeita é impossível: de uma madeira tão retorcida, da qual
o homem é feito, não se poder fazer nada reto. Apenas a aproximação a esta
ideia nos é ordenada pela natureza. Que ela seja aquela que será realizada por
último decorre disto: que ela exige conceitos exatos da natureza de uma
constituição possível, grande experiência adquirida através dos acontecimentos
do mundo e, acima de tudo, uma boa vontade predisposta a aceitar essa
constituição - estes três pontos, todavia, muito dificilmente podem ser
encontrados juntos e, quando isto acontece, ocorre somente muito tarde, após
muitas tentativas frustradas.”
Immanuel Kant, in Ideia de
uma história universal de um ponto de vista cosmopolita
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