Viajante
acima de um mar de nuvens (1818), de Casper David Friedrich
“O solitário leva uma sociedade
inteira dentro de si: o solitário é multidão. E daqui deriva a sua sociedade.
Ninguém tem uma personalidade tão acusada como aquele que junta em si mais
generalidade, aquele que leva no seu interior mais dos outros. O gênio, foi
dito e convém repeti-lo frequentemente, é uma multidão. É a multidão
individualizada, e é um povo feito pessoa. Aquele que tem mais de próprio é, no
fundo, aquele que tem mais de todos, é aquele em quem melhor se une e concentra
o que é dos outros.
(...) O
que de melhor ocorre aos homens é o que lhes ocorre quando estão sozinhos,
aquilo que não se atrevem a confessar, não já ao próximo mas nem sequer, muitas
vezes, a si mesmos, aquilo de que fogem, aquilo que encerram em si quando estão
em puro pensamento e antes de que possa florescer em palavras. E o solitário
costuma atrever-se a expressá-lo, a deixar que isso floresça, e assim acaba por
dizer o que todos pensam quando estão sozinhos, sem que ninguém se atreva a
publicá-lo. O solitário pensa tudo em voz alta, e surpreende os outros
dizendo-lhes o que eles pensam em voz baixa, enquanto querem enganar-se uns aos
outros, pretendendo acreditar que pensam outra coisa, e sem conseguir que
alguém acredite.”
Miguel de Unamuno, in Solidão
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