segunda-feira, 8 de dezembro de 2014

Autoridade do mito


“O mito conta uma história sagrada, quer dizer, um acontecimento primordial que teve lugar no começo do Tempo, ab initio. Mas contar uma história sagrada equivale a revelar um Mistério, porque as personagens do mito não são seres humanos: são Deuses ou heróis civilizadores, e por esta razão as suas gestas constituem Mistérios: o homem não poderia conhece-los se lhos não revelassem. O mito é pois a história que se passou in illo tempore, a narração daquilo que os Deuses ou os Seres divinos fizeram no começo do Tempo. ‘Dizer’ um mito é proclamar o que se passou ab origine. Uma vez ‘dito’, quer dizer, revelado, o mito torna-se verdade apodítica: funda a verdade absoluta. ‘É assim, porque foi dito que é assim’, declaram os Eskimo netsilik a fim de justificarem a validade de sua história sagrada e de suas tradições religiosas. O mito proclama a aparição de uma nova ‘situação’ cósmica ou de um acontecimento primordial. Portanto, é sempre a narração de uma ‘criação’: conta-se como é que qualquer coisa foi efetuada, começou a ser.”
Mircea Eliade, in O sagrado e o profano – a essência das religiões

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