“O mito
conta uma história sagrada, quer dizer, um acontecimento primordial que teve
lugar no começo do Tempo, ab initio.
Mas contar uma história sagrada equivale a revelar um Mistério, porque as
personagens do mito não são seres humanos: são Deuses ou heróis civilizadores,
e por esta razão as suas gestas
constituem Mistérios: o homem não poderia conhece-los se lhos não revelassem. O
mito é pois a história que se passou in
illo tempore, a narração daquilo que os Deuses ou os Seres divinos fizeram
no começo do Tempo. ‘Dizer’ um mito é proclamar o que se passou ab origine. Uma vez ‘dito’, quer dizer,
revelado, o mito torna-se verdade apodítica: funda a verdade absoluta. ‘É assim,
porque foi dito que é assim’, declaram os Eskimo
netsilik a fim de justificarem a validade de sua história sagrada e de suas
tradições religiosas. O mito proclama a aparição de uma nova ‘situação’ cósmica
ou de um acontecimento primordial. Portanto, é sempre a narração de uma ‘criação’:
conta-se como é que qualquer coisa foi efetuada, começou a ser.”
Mircea Eliade, in O sagrado e o profano – a essência das
religiões
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