É
possível que não se tenha visto, conhecido e dito nada de real e importante? É
possível que se tenha tido milênios para olhar, refletir e anotar e que se
tenha deixado passar os milênios como uma pausa escolar, durante a qual se come
fatias de pão com manteiga e uma maçã?
Sim,
é possível.
É
possível que, apesar das investigações e dos progressos, apesar da cultura, da
religião e da filosofia, se tenha ficado na superfície da vida? É possível que
até se tenha coberto essa superfície - que, apesar de tudo, seria qualquer
coisa - com um pano incrivelmente aborrecido, de tal modo que se assemelhe aos
móveis da sala durante as férias de Verão?
Sim,
é possível.
É
possível que toda a História Universal tenha sido mal-entendida? É possível que
o passado seja falso, precisamente porque sempre se falou das suas multidões,
como se dissertasse sobre uma aglomeração de pessoas, em vez de falar de uma
única, em torno da qual elas estavam, porque se tratava de um desconhecido que
morreu?
Sim,
é possível.
É
possível que se tenha julgado ser preciso recuperar o que aconteceu antes de se
ter nascido? É possível que se tivesse de lembrar a cada um que ele, de fato é
proveniente de todos os antecessores, tendo ele disso conhecimento e não
devendo dar ouvidos a outros que soubessem outras coisas?
Sim,
é possível.
É
possível que todas estas pessoas conheçam em pormenor um passado que nunca
houve? É possível que todas as realidades nada sejam para elas; que a sua vida
decorra, desligada de tudo, como um relógio numa sala vazia?
Sim, é
possível.
Rilke
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