Sapateei,
então me assustando de que nem gota de nada sucedia, e a hora em vão passava.
Então, ele não queria existir? Existisse. Viesse! Chegasse, para o desenlace
desse passo. Digo direi, de verdade: eu estava bêbado de meu. Ah, esta vida, às
não-vezes, é terrível bonita, horrorosamente, esta vida é grande. Remordi o ar:
-
"Lúcifer! Lúcifer!..." - aí eu bramei, desengulindo.
Não. Nada. O que a noite tem é o vozeio dum ser-só - que
principia feito grilos e estalinhos, e o sapo-cachorro, tão arranhão. E que
termina num queixume borbulhado tremido, de passarinho ninhante mal-acordado
dum totalzinho sono.
-
"Lúcifer! Satanaz !..."
Só outro silêncio. O senhor sabe o que o silêncio é? É a
gente mesmo, demais.
- "Ei, Lúcifer! Satanaz, dos meus Infernos!"
Voz minha se estragasse, em mim tudo era
cordas e cobras. E foi aí. Foi. Ele não existe, e não apareceu nem respondeu -
que é um falso imaginado. Mas eu supri que ele tinha me ouvido. Me ouviu, a
conforme a ciência da noite e o envir de espaços, que medeia. Como que
adquirisse minhas palavras todas; fechou o arrocho do assunto. Ao que eu recebi
de volta um adejo, um gozo de agarro, daí umas tranquilidades - de pancada.
Lembrei dum rio que viesse adentro a casa de meu pai. Vi as asas, arquei o puxo
do poder meu, naquele átimo. Aí podia ser mais? A pêta, eu querer saldar: que
isso não é falável. As coisas assim a gente mesmo não pega nem abarca. Cabem é
no brilho da noite. Aragem do sagrado. Absolutas estrelas! Pois ainda tardei,
esbarrado lá, no burro do lugar. Mas como que já estivesse rendido de avesso,
de meus íntimos esvaziado.
Fala de Riobaldo, in Grande sertão:
veredas, de Guimarães Rosa
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