“As
ciências e as artes devem seu nascimento a nossos vícios”. A conclusão de
Rousseau (foto) na parte final do Discurso sobre as ciências e as artes soa
escandalosa para ouvidos hodiernos. De acordo com o autor, as ciências e as
artes não contribuem para o aperfeiçoamento do gênero humano porque originam-se
de seus vícios, em particular da vaidade, do desejo de querer se destacar. “Ó
fúria de ser diferente, que poder o vosso!”. Em vez de encorajar a união entre
os seres humanos, as ciências e as artes tendem a esgarçar o tecido social e a
afastar os seres humanos uns dos outros.
Deixando de lado as minudências do
pensamento rousseauniano, me pergunto se a perspectiva apresentada no Discurso
sobre as ciências e as artes ainda se aplica, hoje, à literatura. A um primeiro
olhar, a resposta negativa parece ser unânime. A convicção geral em nossa
sociedade é a de que a literatura produz cidadãos melhores. Não por acaso, o
incentivo à leitura e à escrita vem sendo objeto de políticas públicas há anos.
Tais políticas partem do pressuposto de que o cidadão que lê é melhor do que os
demais; pressuposto este que não deixa de ser acrítico, uma vez que jamais o
contestamos. Porém isso é verdade? O fato de lermos e escrevermos nos torna
mais dignos do que nossos concidadãos que pouco leem ou escrevem?
Texto completo
de Gustavo Hessmann Dalaqua aqui.
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