“Um
lugar conhece outro é pôr calúnias e falsos levantados; as pessoas também,
nesta vida. Sendo isto. Ao doido, doideiras digo. Mas o senhor é homem
sobrevindo, sensato, fiel como papel, o senhor me ouve, pensa e repensa, e
rediz, então me ajuda. Assim, é como conto. Antes conto as coisas que formaram
passado para mim com mais pertença Vou lhe falar. Lhe falo do sertão. Do que
não sei. Um grande sertão! Não sei. Ninguém ainda não sabe. Só umas raríssimas
pessoas — e só essas poucas veredas, veredazinhas. O que muito lhe agradeço é a
sua fineza de atenção.
Sertão é isto: o senhor empurra para
trás, mas de repente ele volta a rodear o senhor dos lados. Sertão é
quando menos se espera; digo. Quadrante que assim viemos, pôr esses lugares,
que o nome não se soubesse. Até, até. A estrada de todos os cotovelos. Sertão,
— se diz –, o senhor querendo procurar, nunca não encontra. De repente, pôr si,
quando a gente não espera, o sertão vem. O sertão não chama ninguém às claras,
mais, porém, se esconde e acena. Mas o sertão de repente se estremece, debaixo
da gente…”
Guimarães
Rosa, in Grande sertão: veredas
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