Eles
nunca desconfiaram que aquele “folclore baiano” fora feito no quarto de hotel
em São Paulo. Pelo menos nunca deixaram transparecer. Naturalmente, eu tinha
dez anos na prática de parecer ausente de minhas composições.
Graças
a Nemésio Salles, fui contratado por trinta cruzeiros mensais para trabalhar
com o poeta José Carlos Capinam e dirigir o Departamento de Música do CPC. (os
CPCS eram os Centros Populares de Cultura, núcleo de atividades artísticas
organizados pela classe universitária de esquerda) Capinam, Emanoel Araújo,
Geraldo Fidélis Sarno, eu e muitos amigos fazíamos uma pluralidade de tarefas:
cantávamos nas escolas, nos sindicatos, nas festas da cidade de Salvador. Lembro-me
de que numa greve de bancários moramos no sindicato da classe por três semanas.
Para motivar a vigília da paralisação, compusemos músicas com as
reivindicações; eram cantadas nas passeatas. Fazíamos shows diários, à tarde e
à noite. Com bonecos de Emanoel Araújo, Fidélis Sarno e Capinam escreveram uma
peça de teatro de títeres que, musicada por mim, representávamos no sindicato e
em qualquer lugar em que o movimento atuasse.
Algumas
dessas canções fizeram parte, em 1965, do meu primeiro compacto pela RCA e do
elepê de estreia, Grande Liquidação,
de 68.
Ainda
naquele ano de 61, antes de entrar para a Escola de Música, Orlando Senna fez
com que fôssemos apresentados, Gil, Caetano e eu. Começamos a atuar juntos.
Apesar disso passaria sete anos sem compor uma só canção, mas estudando
música. Só voltaria a compor música popular em 1968.
De 68 a 73 foi uma luta, para me adaptar
a forma A-B-A simples de música popular, isto é, 1ª parte, 2ª parte, 1ª parte.
Depois de 1961 só voltei a praticar o que chamo realmente de composição em 73,
com TomZéTodososOlhos, da
Continental, quando esquentei as baterias para Estudando o Samba, de 1976.
Tom
Zé, in Tropicalista lenta luta
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