“Para
se realizar uma atividade qualquer, é preciso considerá-la útil e importante. Por
isso, qualquer que seja a situação de um ser humano, ele formará da vida social
um conceito que lhe permita encarar a sua atividade como importante e útil.
Imagina-se
sem razão que os ladrões, os assassinos, os espiões e as prostitutas julgam
desfavoravelmente a sua profissão e se envergonham dela. Nada disso. As pessoas
que são colocadas pelo destino ou pelos seus próprios erros em determina
situação, por muito repreensível que seja, constroem uma concepção geral da
vida onde a sua situação particular aparece eminentemente útil e respeitável. Com
o fim de sustentar os seus pontos de vista, apoiam-se instintivamente num
determinado meio que admite a concepção geral de vida por que optaram e o papel
que desempenham, em particular, nesse tipo de vida. Causa-nos surpresa vermos
ladrões orgulharem-se da sua destreza, prostitutas de sua corrupção, assassinos
da sua crueldade. Mas só nos surpreendemos na medida em que, sendo o meio em
que essa gente vive muito limitado, permanecemos à margem dele. E, no entanto,
não se produz o mesmo fenômeno entre os ricos que se orgulham das suas
vitórias, ou melhor, dos seus crimes, e entre os poderosos que se orgulham do
seu poder, ou seja, da sua tirania?
Se não chegarmos a reparar que essas
personagens, procurando justificar as respectivas situações, têm da vida, do
bem e do mal, uma concepção corrompida, é apenas porque o círculo daqueles que
a adotaram cada vez mais se amplia, a ponto de nós próprios estarmos incluídos.”
Leon
Tolstoi, in Ressurreição
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