Toninho Veludo entrou no bar do Carneiro mais
saltitante e exibido que nunca – e ele sempre estava saltitante e exibido, era
sua condição natural. Mostrou a todos a câmara digital nova que acabara de
comprar, das mais modernas. Do nada, sem pedir licença, puxou uma cadeira e
sentou-se à mesa, entre o Velho Marinheiro e Ananias. Colocou um braço sobre o
ombro do nosso Lobo do Mar. E disparou:
- Vou fazer uma selfie com o senhor. Adoro o
senhor. Depois, faço uma selfie com você Ananias. Por fim, farei uma selfie do
nosso grupo…
- Fazer o quê?
- Uma sel-fi-eeee.
- Só não lhe dou uma garrafada na cabeça em respeito
ao seu pai, que morre de vergonha de seus maneirismos. Você vai fazer isso com
gente de sua laia, vagabundo – retrucou nosso Lobo do Mar.
- Nossa! Que agressividade! O senhor sabe o que é
sel-fi-e?
- Não sei nem quero saber. Partindo de você só pode
ser bandalheira.
Ananias resolveu intervir, na tentativa de serenar
os ânimos do Velho Marinheiro:
- Selfie está na moda, é um autorretrato. As
pessoas tiram fotos delas próprias, sozinhas ou acompanhadas, e divulgam pela
internet, nas redes sociais. Não tem nada demais.
- Quer dizer que Veludo quer tirar uma fotografia
me abraçando e ainda mostrar pra todo mundo? E você acha que não tem nada
demais, Ananias? Não me faltava mais nada!
- Todo mundo faz tentou justificar-se o
autorretratista. Em vão.
- Pois fique sabendo de uma coisa, seu Veludo: o
que você faz eu nunca fiz, não faço e jamais farei. Não ouse apertar botão
algum. Tire um retrato com Ananias, pelo visto ele também gosta dessas coisas.
Papo encerrado. Carneiro, mais tarde eu volto, pra pagar a conta.
E lá se foi o
Velho Marinheiro, pisando duro, desconjurando o mundo moderno.
Orlando Silveira, in orlandosilveira1956.blogspot.com.br
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