“Aqueles que, só pela mão da fortuna, de
vulgares cidadãos se tornam príncipes alcançam o mando com pouca fadiga, mas só
com muito esforço o conseguem manter. Não experimentam dificuldades na
caminhada para o poder, parecendo que para lá vão voando. As dificuldades
surgem depois de serem entronizados. É o que sucede com aqueles a quem é dado
um estado a troco de dinheiro ou por graça de quem o concede (...) Os que assim
sobem à condição de príncipe ficam dependentes da vontade e da fortuna de quem
lhes proporcionou o trono, que são duas coisas assaz volúveis e instáveis, não
sabendo nem podendo garantir a sua conservação. Não sabem - porque, a menos que
seja um homem de grande habilidade e virtude, não é razoável que, tendo sempre
vivido como vulgar cidadão, saiba comandar; não podem - porque não dispõem de
forças que lhes possam ser amigas e fiéis. Além disto, os estados que surgem de
repente, como todas as outras coisas da natureza que nascem e crescem
rapidamente, não desenvolvem as raízes, o tronco e os ramos, sendo destruídos
pelo primeiro temporal. Isto, a menos que aqueles que, como eu disse, de
repente se tornaram príncipes possuam tanta virtude como a fortuna que tiveram
quando o estado lhes caiu no regaço e saibam, rapidamente, preparar-se para o
conservar. E aqueles pressupostos que outros preencheram antes de se tornarem
príncipes sejam por eles reunidos posteriormente.”
Maquiavel, in O
Príncipe
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