Que herança
transmite
o pai a seu
filho?
Não lhe deixa casa
ou sombra de apólice
nem tampouco o sujo
de seu colarinho.
Não lhe lega a velha
mala das viagens
nem os seus amores
e as suas bagagens.
E as roupas do pai
que a chuva encolheu
no filho não cabem.
Com pau seco e fogo
o pai de resina
arma seu legado.
Deixa a fogueira
que ele fez sozinho
no escuro da mata.
(Borboletas em
seus ombros pousavam)
E também menino
na pele do vento
solta para o céu
o seu papagaio.
E antes de mudar-se
de suor em musgo
o pai dá ao filho
como pé-de-meia
algo da paisagem
- sobra de pupila,
moeda de lágrimas.
Deixa-lhe o balaio
cheio de apetrechos
e o jeito de andar
com as mãos às costas.
Para o filho, passa
todo o seu cansaço
suas promissórias
e seu olhar baço.
Da árvore do povo
deixa-lhe o grito
de espantado amor
que gritou na praia.
De agrestes gravetos
faz o fogo e esquenta
na palhoça ao vento
a comida fria
de sua marmita.
O pai dá ao filho
o ninho vazio
achado no bosque
e a raposa morta
por sua espingarda.
Dá-lhe a sua anônima
grandeza do nada.
Sua herança é o frio
que sentiu rapaz
quando impaludado.
Dá-lhe a lua imensa
na noite azulada.
Estende-lhe as mãos
sujas de carvão
molhadas de orvalho.
Fala-lhe da dor
que sente nos calos.
Dá-lhe a verde e rubra
pimenteira em flor.
Mostra-lhe o tambor
de salitre e brisa
que rufa sozinho
entre arquipélagos
de sua pobreza.
Mostra-lhe o cadarço
de espuma no mar
cheio de mariscos.
Ser pai é ensinar
ao filho curioso
o nome de tudo:
bicho é pé de pau.
Que o pai, quando morre,
deixa ao filho
o seu montepio
- tudo o que juntou
de manhã à noite
no batente, dando
duro no trabalho.
Não lhe deixa casa
ou sombra de apólice
nem tampouco o sujo
de seu colarinho.
Não lhe lega a velha
mala das viagens
nem os seus amores
e as suas bagagens.
E as roupas do pai
que a chuva encolheu
no filho não cabem.
Com pau seco e fogo
o pai de resina
arma seu legado.
Deixa a fogueira
que ele fez sozinho
no escuro da mata.
(Borboletas em
seus ombros pousavam)
E também menino
na pele do vento
solta para o céu
o seu papagaio.
E antes de mudar-se
de suor em musgo
o pai dá ao filho
como pé-de-meia
algo da paisagem
- sobra de pupila,
moeda de lágrimas.
Deixa-lhe o balaio
cheio de apetrechos
e o jeito de andar
com as mãos às costas.
Para o filho, passa
todo o seu cansaço
suas promissórias
e seu olhar baço.
Da árvore do povo
deixa-lhe o grito
de espantado amor
que gritou na praia.
De agrestes gravetos
faz o fogo e esquenta
na palhoça ao vento
a comida fria
de sua marmita.
O pai dá ao filho
o ninho vazio
achado no bosque
e a raposa morta
por sua espingarda.
Dá-lhe a sua anônima
grandeza do nada.
Sua herança é o frio
que sentiu rapaz
quando impaludado.
Dá-lhe a lua imensa
na noite azulada.
Estende-lhe as mãos
sujas de carvão
molhadas de orvalho.
Fala-lhe da dor
que sente nos calos.
Dá-lhe a verde e rubra
pimenteira em flor.
Mostra-lhe o tambor
de salitre e brisa
que rufa sozinho
entre arquipélagos
de sua pobreza.
Mostra-lhe o cadarço
de espuma no mar
cheio de mariscos.
Ser pai é ensinar
ao filho curioso
o nome de tudo:
bicho é pé de pau.
Que o pai, quando morre,
deixa ao filho
o seu montepio
- tudo o que juntou
de manhã à noite
no batente, dando
duro no trabalho.
Deixa-lhe palavras.
Lêdo Ivo
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