“Volta-se
o rico para os prazeres da carne e a maior parte do mundo faz o mesmo. E não
sem acerto, porque todas as coisas agradáveis devem ser tidas como inocentes, e
até que se provem culpadas todas as presunções pendem a seu favor. A vida já é
bastante penosa para que ainda a agravemos com proibições e obstáculos aos seus
deleites; tão arisca se mostra a felicidade que todas as portas por onde ela
queira entrar devem permanecer escancaradas. A carne enfraquece muito
precocemente - e os olhos olham com melancolia para os prazeres de outrora.
Muito rapidamente todas as alegrias perdem a vivacidade - e admiramo-nos de
como pudessem ter-nos interessado tanto. O próprio amor torna-se grotesco logo
que atinge os seus fins. Guardemos o ascetismo para a estação própria - a
velhice.
É este o grande drama do prazer; todas as
coisas agradáveis acabam por amargar; todas as flores murcham quando as
colhemos, e o amor morre tanto mais depressa quanto é mais retribuído. Por isso
o passado parece-nos sempre melhor que o presente; esquecemos os espinhos das
rosas colhidas; saltamos por cima dos insultos e injúrias e demoramo-nos sobre
as vitórias. O presente parece muito mesquinho diante de um passado do qual só
retemos na memória o bom, e diante de um futuro que ainda é sonho. O que alcançamos
nunca nos contenta; ‘olhamos para diante e para trás em procura do que não está
ali’; não somos bastante sábios para amar o presente do mesmo modo que o
amaremos quando se tornar passado. Quando mergulhamos num prazer, o nosso olhar
vai para longe - a felicidade ainda não está alcançada apesar de termos o
deleite nos nossos braços. Que mau demônio nos afeiçoou assim?”
Will
Durant, in Filosofia da Vida
Nenhum comentário:
Postar um comentário