Ilustração: Gustave Doré
Um gato de
nome Faro-Fino deu de fazer tal destroço na rataria duma casa velha que os
sobreviventes, sem ânimo de sair das tocas, estavam a ponto de morrer de fome.
Tornando-se
muito sério o caso, resolveram reunir-se em assembleia para o estudo da
questão. Aguardaram para isso certa noite em que Faro-Fino andava aos
mios pelo telhado, fazendo sonetos à lua.
– Acho — disse um deles — que o meio de nos
defendermos de Faro-Fino é lhe atarmos um guizo ao pescoço. Assim que ele se
aproxime, o guizo o denuncia e pomo-nos ao fresco a tempo.
Palmas e bravos saudaram a luminosa ideia. O
projeto foi aprovado com delírio. Só votou contra, um rato casmurro, que pediu
a palavra e disse — Está tudo muito direito. Mas quem vai amarrar o guizo
no pescoço de Faro-Fino?
Silêncio geral. Um desculpou-se por não saber
dar nó. Outro, porque não era tolo. Todos, porque não tinham
coragem. E a assembleia dissolveu-se no meio de geral consternação.
Moral da
estória: falar é fácil; fazer é que são elas.
Monteiro Lobato, in Fábulas
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