Numa
das ruas, o cocheiro, um homem de meia-idade, de rosto bondoso e inteligente,
voltou-se para Nekliudov indicando-lhe um enorme edifício em construção.
-
Que grande casa eles estão a fazer! – exclamou com expressão de orgulho, como
se contribuísse também para a obra.
Era,
de fato, um edifício de grandes dimensões, num estilo barroco e complicado. Rodeava-o
um sólido andaime feito de vigas de pinho, ligadas por aros de ferro, e um
tapume de madeira isolava-o da rua. Sobre as superestruturas iam e vinham, como
formigas, operários todos brancos de cal: uns colocavam pedras, outros talhavam-nas,
e outros ainda subiam com grandes cargas ou desciam com padiolas e baldes já
vazios.
Um
senhor gordo, elegantemente vestido, que devia ser o arquiteto, estava junto do
andaime e dava quaisquer instruções ao mestre-de-obras, que o escutava com
atenção e deferência. Carros carregados e vazios entravam e saíam pelo portão.
“E pensar que toda gente está persuadida
de fazer uma obra útil ao construir este palácio estúpido e inútil para
qualquer pessoa também estúpida e inútil (para um desses que os roubam e
arruínam), enquanto em suas casas as mulheres grávidas estão sobrecarregadas
por uma lida brutal e seus filhos, entortando as pequenas pernas, sorriem com
expressão senil a uma morte precoce pela fome”, pensou Nekliudov contemplando o
edifício.
Leon
Tolstoi, in Ressurreição
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