“Malgrado o que dizem os moralistas, o
entendimento humano deve muito às paixões, que, de comum acordo, também lhe
devem muito: é pela sua atividade que a nossa razão se aperfeiçoa; só
procuramos conhecer porque desejamos gozar; e não é possível conceber porque
aquele que não tivesse desejos nem temores se desse ao trabalho de raciocinar.
As paixões, por sua vez, originam-se a partir das nossas necessidades, e o seu
progresso dos nossos conhecimentos; porque só podemos desejar ou temer coisas
segundo as ideias que temos delas, ou pelo simples impulso da natureza; e o
homem selvagem, privado de toda a sorte de luzes, só experimenta as paixões
dessa última espécie; os únicos bens que conhece no universo são a sua
nutrição, uma fêmea e o repouso; os únicos males que teme são a dor e a fome.
Digo a dor, e não a morte; porque jamais o animal saberá o que é morrer; e o
conhecimento da morte e dos seus terrores foi uma das primeiras aquisições que
o homem fez afastando-se da condição animal.”
Jean-Jacques Rousseau
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