“Hem?
Hem? Ah. Figuração minha, de pior pra trás, as certas lembranças. Mal haja-me!
Sofro-me pena de contar não...
Melhor, se arrepare: pois, num chão, e
com igual formato de ramos e folhas, não dá mandioca mansa, que se come comum,
e a mandioca-brava, que mata? Agora, o senhor já viu azangada – motivos não
sei; às vezes se diz que é replantada no terreno sempre, com mudas seguidas de
manaíbas – vai em amargando, de tanto em tanto, de si mesmo toma peçonhas. E,
ora veja: a outra, a mandioca-brava, também é que às vezes que fica mansa, a
esmo, de se comer sem nenhum mal. E que é isso? Eh, o senhor que já viu, por
ver, a feiúra de ódio franzido, carantonho, nas faces duma cobra cascavel?
Observou o porco gordo, cada dia mais feliz bruto, capaz de, pudesse, roncar e
engolir por sua comodidade o mundo todo? E gavião, corvo, alguns, as feições
deles já representam a precisão de talhar para adiante, rasgar e estralhaçar a
bico, parece uma quicé muito afiada por ruim desejo. Tudo. Tem até tortas raças
de pedras, horrorosas, venenosas – que estragam mortal a água, se estão
jazendo em fundo de poço; o diabo dentro delas dorme: são o demo. Se sabe? E o
demo – que é só assim o significado dum azougue maligno – tem ordem de seguir o
caminho dele, tem licença para campear?! Arre, ele está misturado em tudo.”
Guimarães
Rosa, in Grande sertão: veredas
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