Wayne, The Life and the Legend diz que ator
queria interpretar somente homens que espelhavam suas crenças e valores.
Ele
era um herói forte e autêntico, às vezes cabeçudo, mas consagrado à justiça e
capaz de ternura e sacrifício; uma figura solitária, convocada para defender a
propriedade ou resgatar a mocinha, mas, no fim, com frequência exilado no fim
da civilização pós-fronteira, que já não precisava de seu tipo durão. Quer
fosse pistoleiro, caubói ou oficial de cavalaria, ele se tornou a
personificação da fronteira americana.
O narrador do romance The Moviegoer, de
Walker Percy, lembra dele matando “três homens com uma carabina, enquanto caía
na poeira da rua em No Tempo das Diligências”. Joan Didion o chamou de o “molde
perfeito” no qual “os anseios de uma nação” eram derramados.
John Wayne colocou de forma mais simples:
“Encontrei o personagem que o homem médio quer que ele, seu irmão ou seu garoto
seja”. “É o mesmo tipo de cara que a mulher média quer para marido. Ande sempre
de cabeça erguida e olhe diretamente nos olhos.” Na sua carreira, ele
rejeitaria papéis – como o do intrigante e corrupto Willie Stark em A Grande
Ilusão – que violavam suas crenças.
Scott Eyman, autor de uma nova biografia
de Wayne, The Life and the Legend, diz que ele pretendia interpretar somente
“homens que espelhavam suas próprias crenças e seus valores”.
Como o livro de Eyman deixa claro, o
homem Duke Morrison não era sinônimo do personagem John Wayne que ele criou na
tela. “Para Wayne”, escreve Eyman, “ele era Duke Morrison. John Wayne era para
ele o que o Vagabundo era para Charlie Chaplin – um personagem que se
sobrepunha à sua própria personalidade, mas não a ponto de subjugá-la”.
Eyman lembra que a persona na tela que
Wayne idealizou para si – de um homem que era a um só tempo um estranho e uma figura
autoritária – ajudou a transformar um garoto desajeitado e inseguro na
“representação enfática de uma masculinidade americana”, que era segura de si o
suficiente para abrigar uma certa melancolia e vulnerabilidade por baixo da
autoconfiança.
Essa história da invenção de si mesmo por
John Wayne já foi contada muitas vezes. The Searchers: The Making of an
American Legend, o poderoso livro de Glenn Frankel, de 2013, sobre a obra-prima
de John Ford, discute como o jovem Wayne estudou os modos do astro de western
Harry Carey e as lições que aprendeu com o dublê Yakima Canutt, ex-astro de
rodeios. E o livro de 1997 de Wills, John Wayne’s America, também percorreu boa
parte desse terreno.
O trabalho de Eyman tem a pretensão de
ser bem mais abrangente do que as obras anteriores. Às vezes, exagera,
registrando fielmente filmes mais esquecíveis de Wayne. O autor também gasta
bastante espaço em questões discutidas há décadas (como a relação de Wayne com
a política conservadora e sua escolha de filmes).
Mas o que essa biografia faz com
habilidade é dar um retrato vigoroso de John Wayne – isto é, Duke Morrison – e
a Hollywood em que ele trabalhou, enquanto mapeia seu crescente domínio do
ofício. Ele percorre a transição de Wayne dos papéis agitados, pueris, dos primeiros
filmes a um homem dominador e confiante; do “sujeito comum perfeito” de John
Ford ao “pai de todos” e, eventualmente, “avô de todos” como em Bravura
Indômita. Eyman nos dá um senso vívido da relação mentor-protegido entre Ford e
Wayne. Ele reconhece o conhecimento íntimo do processo cinematográfico que
estava por trás daquele ‘à vontade’ de Wayne na tela. E aprecia, também, a
ambiguidade e complexidade de papéis como Ethan Edwards em Rastros de Ódio (um
homem possuído pela vingança e fúria racista, e, no entanto, fiel a seu código
de honra moral) e o sentimento profundo de perda ou isolamento de personagens
como Nathan Brittles em Legião Invencível e Tom Doniphon de O Homem Que Matou o
Facínora.
O Duke Morrison retratado nesse livro é
um profissional, que chega sempre no horário no set, rápido para se desculpar
quando se descontrolava e solícito com a equipe e os extras. Fumante
inveterado, bebia muito, como vários de seus personagens, mas era também um
amante de livros capaz de citar Shakespeare e Dickens.
“Para o bem da clareza psicológica”,
Eyman observa ainda que o ator sempre pedia para as pessoas o chamarem de Duke,
não de John. “Sempre fui Duke, ou Marion ou John Wayne”, afirmou ele, em 1975.
“É um nome que fica bem junto e é como uma palavra – JohnWayne.”
Michiko Kakutani, in The New York Times (fonte: www.estadao.com.br)
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