Jean,
filho de Paulo de Bolé, foi outro brincalhão que ficou na estória da cidade,
levava a vida a fazer anarquia e presepada. Essa quem me contou foi a sua irmã
Jane. Ela disse que certo dia, bem cedinho, um cidadão entrou na venda de seu
pai, brabo que só a “capota choca”. Paulo estava dormindo e quem o atendeu foi
dona Josefa.
O
homem, muito nervoso, falando alto, disse que veio cobrar o prejuízo que teve
com o seu cavalo, uma vez que Jean tinha arrancado os dois olhos do animal.
Dona Josefa ficou estupefata. Sabia que o filho era os pés da besta, mas chegar
a esse ponto tinha passado dos limites. Pediu ao homem que tivesse calma; assim
que o marido acordasse resolveria o problema. E ficasse certo de que o filho
iria levar uma surra daquelas.
Nem
bem Paulo tinha se levantado, chegou o oficial de justiça com uma intimação pra
ele se apresentar na Delegacia às três horas da tarde. Indagou da esposa o que
danado teria feito. Pessoa pacata, único exagero que praticava era de vez em
quando tomar umas nove mais dezesseis. Foi então que a mulher relatou o
acontecido de uma hora antes. “Mas por que o homem não veio me procurar
novamente? Eu teria resolvido o caso sem precisar dar parte”. Às três horas lá
estava ele cara a cara com o queixoso, justamente na frente do Tenente Vasco,
que pra seu desespero foi um dos delegados mais brabos que Bom Jardim já teve.
Diz
o homem da lei: “quer dizer então que o seu filho, um menino com dez anos,
cometeu uma proeza dessas? Estou curioso pra conhecer esse anjinho
pessoalmente”. Virando-se para o queixoso, perguntou: “e seu cavalinho, por
acaso está vivo ou morreu?”
-
Doutô, o cavalo é de pau e pertence ao meu carrossel! (seu Araújo era dono de
um carrossel).
Não
prestou não!
Vasco
deu um murro na mesa e disse: “Minha vontade era lhe dar uma dúzia de bolos e
depois lhe meter no xadrez! Como é que você me ocupa e me faz perder tempo por
causa dos olhos de um cavalo de pau?”
E dispensou os dois, pra satisfação do
réu que, depois de um susto daqueles, nem a surra prometida deu no filho: e de
vingança não pagou os olhinhos do cavalo.
Bráulio
de Castro, in www.bestafubana.com.br
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