“Não
posso conceber o homem independente da sua intensidade. Basta ler um tratado de
psicologia para sentir quanto as nossas ideias gerais mais penetrantes se deturpam
quando queremos empregá-las para compreender os nossos atos. O seu valor
desaparece à medida que avançamos na nossa procura, e é então fatal o choque
com o incompreensível, com o absurdo, quer dizer com o ponto extremo do
particular. A chave deste absurdo não será a intensidade sempre diferente que
caracteriza a vida?
Ela é afetada pela nossa vida voluntária,
consciente, e pela nossa vida mais oculta, feita de sonhos e de sensações
secretas que se desenvolvem em absoluta liberdade. Quer um homem sonhe ser rei
ou amante feliz, isso não altera em nada os seus gestos quotidianos; mas se um
amor, a cólera, uma paixão ou um choque o desamparam, como gestos de outrem
poderão repercutir-se nele com força ou fraqueza, conforme ele estiver exaltado
ou deprimido!”
André
Malraux, in A Tentação do Ocidente
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