No fim de um lugar
você veio ficou de pé
no espinheiro pedrento do rochedo
e se atravessava uma coisinha branca na voz.
Eu fui na garupa
com os frios da noite
por cajus amarelos
debruçados à cerca.
Em torno fazia um pássaro
que seu canto finge com águas...
Você se beiradeava.
Eu me escorei o rosto nos silêncios.
Fui buscar um gosto leve
naquilo árvore
naquilo casa-de-pássaros.
- Você me esperava?
Que outra era esperada
no recanto do meu abandono
Quando não vinha você
naquele lugar de minha mão?
Eu não sei bem o que houve
no fim desse lugar
pois andou nele a raiz
de uma voz que crescia na relva dos peixes.
Crescia teu lábio
essa voz úmida que me buscava
sobre os cascalhos verdes
junto de outro corpo.
Eu andava com meus dedos
a colher outros frutos raros...
Por que você já não vinha
malhar sob os meus galhos?
Não espiei contudo
quem escorria de mim outrora.
Ervinhas subideiras
trepavam de meu casaco.
Agarrado aos muros
ainda a brotar esta flor de sonho
um pouco do meu rosto
ficou eivado desse lugar...
Manoel
de Barros
Quem viu o documentário sobre ele no Netflix sabe que esse é um ser humano que pertence a uma esfera mais elevada da experiencia humana. Um ser humano "eivado" de amor, aproveitando o finzinho do poema.
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