“Nunca compreendi como é possível que
alguém que escreva consiga objetivar os seus sofrimentos enquanto vive sob o
seu peso; assim eu, por exemplo, no meio da minha infelicidade, provavelmente
ainda com a minha cabeça a queimar de infelicidade, sento-me e escrevo a
alguém: sou infeliz. Sim, eu até posso ir além disto e com todos os floreados
que o meu talento possa inventar, que não parecem ter nada a ver com a minha
infelicidade, toco uma orquestração simples, ou em contraponto, ou uma
orquestração completa de variações sobre o meu tema. E não é uma mentira, e não
mitiga a minha dor: é simplesmente um extra misericordioso de força num momento
em que o sofrimento me consumiu até ao fundo do meu ser e gastou completamente
todas as minhas forças. Mas então que espécie de extra é esse?”
Franz
Kafka, in Diário (18/09/1917)
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