“A
errância amorosa tem seus lados cômicos: parece um balé, mais ou menos rápido
conforme a velocidade do sujeito infiel; mas é também uma grande ópera
(Wagner). O Holandês maldito é condenado a errar sobre o mar até encontrar uma
mulher de uma fidelidade eterna. Sou esse Holandês Voador; não posso parar de
errar (de amar) por causa de uma antiga marca que me destinou, nos tempos
remotos da minha infância profunda, ao deus Imaginário, que me afligiu de uma
compulsão de fala que me leva a dizer ‘Eu te amo’, de escala em escala, até que
qualquer outro escolha essa fala e a devolva a mim; mas ninguém pode assumir a
resposta impossível (que completa de uma forma insustentável), e a errância
continua.”
Roland Barthes, in Fragmentos
de um discurso amoroso
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