sábado, 2 de novembro de 2013

Um disco fundamental da MPB: Quinteto Violado (1972)



 A música popular brasileira no início dos anos setenta passava por uma crise de identidade e criatividade em função da evasão de artistas que foram obrigados a sair do país por causa do avanço da ditadura militar. O processo de renovação que vinha numa marcha crescente sofreu uma breve interrupção e o que víamos ou ouvíamos eram coisas do tipo “Eu te amo meu Brasil” de Don e Ravel e outras baboseiras mais. Contudo, interromper o desenvolvimento de nossa arte maior era muito difícil apesar das tentativas que se queria impor, e assim, mesmo a contragosto começavam a aparecer no cenário musical brasileiro artistas que vinham com o objetivo de propor uma renovação, seriam marcantes durante toda a década e fariam escola.
Uma das regiões que mais contribuiriam para essa retomada de rumos na música brasileira foi o Nordeste, que vinha procurando se desvencilhar do estigma de ser apenas um local de cantadores, repentistas e sanfoneiros. Era preciso absorver essas manifestações originais, mas também demonstrar que seria necessário atualizá-las, fazer uma releitura mais moderna, incorporar elementos do folclore e da musicalidade nordestina num formato que lhe desse um cunho de contemporaneidade. Enfim, era preciso revolucionar a estética musical nordestina.    Assim começaram a aparecer nomes como Fagner e o Pessoal do Ceará, liderados por Ednardo, Belchior, Alceu Valença, que com seu “Vou danado pra Catende” apresentado no Festival Abertura em 1974, sintetiza essa mudança, Geraldo Azevedo, Elba Ramalho, Zé Ramalho, grupos como a Banda de Pau e Corda, Quinteto Violado, além da Orquestra e Quinteto Armorial. Era uma verdadeira avalanche de artistas nordestinos invadindo a música brasileira mostrando nos centros de maior expressão e visibilidade toda a reestruturação artístico/musical que se operava na região e o que é melhor, sendo aplaudidos em todo o país.
Foi nessa levada que o Quinteto Violado aparece como um dos grupos mais importantes dessa fase. Conjunto instrumental-vocal foi formado em Recife em 1970 tendo como integrantes Toinho Alves (Canto e baixo acústico), Marcelo Melo (Canto, viola e violão), Fernando Filizola e Luciano Pimentel (Percursionistas) e Sando cognome de Alexandre Johnson dos Anjos (Flautista). O grupo tinha por base o estudo do folclore nordestino e a interpretação de músicas populares.
Em outubro de 1971 ao se apresentarem no Teatro da Nova Jerusalém, foram apelidados de “Os violados” surgindo daí a designação final do grupo. Através de Gilberto Gil que se impressionou com o talento dos rapazes foram apresentados por este ao produtor da Phonogram Roberto Santana, sendo também elogiados publicamente por Caetano Veloso. Destacando-se cada vez mais, surgiu então a oportunidade de realizarem diversas apresentações pelo país, inclusive em São Paulo, e partir finalmente para a produção e gravação do primeiro LP lançado em 1972 pela Philips com o título de Quinteto Violado.
O disco é uma das mais belas traduções artísticas do cancioneiro nordestino e um marco importante e definidor de tudo que se desenrolava na região como proposta renovadora, concebido com um tratamento extremamente sofisticado, mesclando temas folclóricos e canções tradicionais calcadas num instrumental artístico com efeitos percussivos modernos e inovadores, caracterizados por uma acentuada representação de ritmos e gêneros musicais do Nordeste brasileiro. No repertório destacamos “Asa Branca” de Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira, considerada pelo Rei do Baião como a mais bela e definitiva interpretação de sua música, hoje antológica, “Acauã” de Zé Dantas, “Marcha nativa dos índios Quiriris” e “Roda de ciranda”, adaptações de Marcelo Melo e Toinho Alves e “Freviola” de Marcelo Melo. Trata-se de um trabalho que abriu as porteiras da música nordestina para o resto do país numa época difícil em que quase tudo era proibido, menos o talento e a capacidade criadora do artista brasileiro.
Lá se vão 32 anos, o Quinteto Violado fez sua história e ajudou a consolidar a maturidade da música popular brasileira e em especial a produzida no Nordeste.
Luiz Américo Lisboa Junior, in www.luizamerico.com.br 

Nenhum comentário:

Postar um comentário