“Ajo sempre – teimo em agir, não importa
o que me digam nem quais sejam meus próprios desencorajamentos, como se o amor
pudesse um dia me fazer transbordar, como se o Bem Supremo fosse possível. Daí
essa curiosa dialética que permite que o amor absoluto suceda sem embaraço ao
amor absoluto, como se, através do amor, eu tivesse acesso a uma outra lógica
(o absoluto não sendo obrigatoriamente o único), a um outro tempo (de amor em
amor vivo instantes verticais), a uma outra música (esse som sem memória, sem construção,
esquecido daquilo que o precede e o segue, esse som é em si mesmo musical).
Procuro, começo, tento, vou mais longe, corro, mas nunca sei que acabo: não se
diz da Fênix que ela morre, mas apenas que renasce (posso então renascer sem
morrer?).”
Roland
Barthes, in Fragmentos de um discurso amoroso
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