“É verdade que tanto o medo como a
esperança entram na religião, porque estas duas paixões, em alturas diferentes,
agitam a mente humana e cada uma delas forma uma espécie de divindade que lhe é
adequada. Mas, quando um homem se sente bem, ele está inclinado para os
negócios, para o convívio ou para qualquer espécie de divertimento, e dedica-se
naturalmente a essas atividades e não pensa em religião. Quando está
melancólico e abatido, tudo o que para fazer é meditar sobre os terrores do
mundo invisível, e mergulhar mais profundamente ainda na aflição. Pode
realmente acontecer que, após ter assim gravado profundamente as opiniões
religiosas no seu pensamento e imaginação, ocorra uma alteração da saúde ou das
circunstâncias que restaure o seu bom humor e, ocasionando boas perspectivas de
futuro, o faça cair no extremo oposto da alegria e triunfo. Mas, ainda assim
deve reconhecer-se que, como o terror é o princípio primordial da religião, é
essa a paixão que predomina nela e que só admite pequenos intervalos de prazer.”
David
Hume, in Diálogos Sobre a Religião Natural
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