“De início creio, como Schopenhauer, que
um dos motivos mais fortes conduzindo à arte e à ciência é o desejo de evasão
da existência terra a terra com a sua aspereza dolorosa e o seu desolado vazio,
de libertação das peias dos próprios desejos eternamente volúveis. É uma força
impelindo os que a ela são sensíveis a sair da existência pessoal para o mundo
da contemplação e da compreensão objetiva; esse motivo é semelhante à atração,
que leva o habitante da cidade irresistivelmente a sair do seu ambiente
barulhento e confuso e procurar a paisagem calma dos altos montes, onde o olhar
se espraia pelo ar tranquilo e puro e acaricia as linhas calmas, que parecem
ter sido criadas para a eternidade. A esse motivo negativo, porém, alia-se
outro positivo. O homem procura formar para si, de qualquer modo adequado, uma
imagem simples e clara do Mundo e vencer assim o mundo da vida banal tentando
substituí-lo, até certo grau, por essa mesma imagem. É o que faz o pintor, o
poeta, o filósofo especulativo e o cientista da natureza, cada um à sua
maneira. É dessa imagem e da sua conformação que ele faz o centro da sua vida
afetiva, para procurar aquela tranquilidade e segurança que não consegue
encontrar no turbilhão demasiado estreito da experiência pessoal.”
Albert
Einstein, in Como Vejo o Mundo
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