“Qualquer que seja a raça ou o tempo considerado, o objetivo constante
da atividade humana foi sempre a pesquisa da felicidade, a qual consiste, em
última análise, ainda o repito, em procurar o prazer e evitar a dor. Sobre essa
concepção fundamental os homens estiveram constantemente de acordo; as suas
divergências aplicam-se somente à ideia que se concebe da felicidade e aos
meios de a conquistar. As suas formas são diversas, mas o termo que se tem em mira é idêntico. Sonhos
de amor, de riqueza, de ambição ou de fé são os possantes fatores de ilusões que
a natureza emprega para
conduzir-nos aos seus fins. Realização de um desejo presente ou simples
esperança, a felicidade é sempre um fenômeno subjetivo. Desde que os contornos
do sonho se implantam um pouco no espírito, com ardor nós tentamos obtê-lo.
Mudar a concepção da felicidade de um indivíduo ou de um povo, isto é, o
seu ideal, é mudar, ao mesmo tempo, a sua concepção da vida e, por conseguinte,
o seu destino. A história não é mais do que a narração dos esforços empregues
pelo homem para edificar um ideal e destruí-lo em seguida, quando, tendo-o
atingido, descobre a sua fragilidade.
A esperança de felicidade concebida por cada povo e
as crenças que constituem a sua fórmula representam sempre o fator da sua
pujança. O seu ideal nasce, cresce e morre com ele, e, qualquer que seja, dota
de grande força o povo que o aceita. Essa força é tal que o ideal atua, mesmo
quando promete pouca coisa. Compreende-se o mártir, para quem a fogueira
simbolizava a porta do céu; mas, que proveito podiam retirar das suas
cavalgadas através do mundo um legionário romano e um soldado de Napoleão? A
morte ou ferimentos. O seu ideal coletivo era, entretanto, bastante forte para
velar todos os sofrimentos. Considerarem-se heróis dessas grandes epopeias era
para eles um ideal de felicidade, um paraíso, presente divinamente encantador.
Uma nação sem ideal desaparece rapidamente da história.”
Gustave
Le Bon, in As Opiniões e as Crenças
Nenhum comentário:
Postar um comentário